E estou ali, abraçado a ti,
não te vejo há não sei quanto tempo e talvez por isso me apeteça chorar, mas não
choro. Há uma rapariga sentada numa mesa, estava a olhar para mim há bocado,
ficou espantada quando te abraçaste a mim, deve ter achado que eu era um
daqueles que nunca morre, que vive eterno sentado ao balcão de um bar, sem
falar com ninguém, sem conhecer ninguém. Mas eu levantei-me quando passaste por
mim, e é tão estranho, apetece-me ao mesmo tempo desaparecer e que nunca me
largues, mas nem eu vou desaparecer nem o abraço que prolongas pode durar para
sempre. As coisas agora são diferentes, o tempo passa, as coisas mudam. Eu
raramente te olho nos olhos porque não consigo, e tu apertas a tua mão no meu
braço e encostas a cabeça ao meu peito como se fosse a coisa mais normal do
mundo, e é a coisa mais normal do mundo, mesmo que não seja, porque quando
encostas a cabeça no meu peito eu suspendo a minha vida e penso,
– nunca fui tão feliz,
mesmo sabendo que, a
seguir, quando largas o meu braço e olhas para mim, já não com a cabeça no meu
peito, apenas tu a olhares para mim, a cabeça já não encostada ao peito e tu a
rires-te e a dizer,
– Mike,
(gosto quando me chamas,
– Mike,
e sei que sabes que eu
gosto que me chames,
– Mike,)
somos apenas duas pessoas distantes
uma da outra, tu ali e eu aqui, tu à procura e eu à espera. Somos o que somos.
Não há nada a fazer, sabemos disso. Por muitos anos que passem, vai ser sempre
assim. Eu a escrever e tu a leres o que eu escrevo, eu a chegar a casa e a escrever
sobre ti, por muitos anos que passem, por muitas pessoas que passem, por muitas
vidas que passem, não vou conseguir não fazer isso, não vou conseguir chegar a
casa e não escrever sobre ti, não vou conseguir deixar de dizer,
– amo-te,
mesmo que não o diga ao teu
lado, abraçado a ti, mesmo que o afogue num abraço, porque sei que não o queres
ouvir.
Depois falamos da vida,
falamos do que nos acontece, falamos de coisas e de outras coisas. Não falei
sobre não conseguir escrever e tu não falaste sobre não conseguir amar. Pareces
feliz, e eu gosto de te ver feliz, não me preocupo em saber se estás a fingir
ou não, gosto de olhar para ti e continuar a ver o teu sorriso. Gosto de ver que
ele não desapareceu, que ele continua, que ele há-de sempre continuar, mesmo
que seja a fingir. É estranho falar contigo. É estranho saber a tua vida, é
estranho perguntar,
– e tu, como estás?
e ver-te encolher os
ombros. Não sei. É estranho não fazer parte da tua vida. É estranho olhar para
as pessoas que estão ao teu lado e não perceber o que é que elas estão lá a
fazer, não perceber o que será que elas têm que eu não tenho, não perceber se fui
eu que fiz tudo mal ou se foi o mundo inteiro que se juntou para me empurrar.
De certa forma, nas últimas
semanas, tenho tido a tendência para acreditar mais na segunda hipótese. Falo com
poucas pessoas, às vezes estou com esta ou com aquela, às vezes janto fora com
amigos, às vezes, cada vez menos, alguém me telefona para saber como estou e, às
vezes, à noite, quando tudo parece que vai desaparecer, penso em ti – nunca
ajuda.
Depois fui-me embora. Isto
foi há três dias, acho.
Gosto
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